A cerveja é uma bebida que acompanha o ser humano há mais de 6.000
anos. Essa companhia sempre foi interessante pela propriedade inebriante
da bebida alcoólica. No tempo que remonta esta história os sumérios
obtinham a bebida fermentada através dos cereais, e sem saber da
existência do álcool, mas produziam pelos benefícios que pareciam
mágicos.
As mulheres eram as responsáveis pela produção da cerveja neste
período histórico e os efeitos relaxantes foram percebidos pelas
prostitutas que logo faziam suas melhores cervejas para atrair os
clientes. A ligação da cerveja e o prazer carnal já haviam feito sua
conexão lá em tempos babilônicos.
A famosa loira gelada brasileira sempre usou deste componente da
luxúria para reunir na propaganda de cerveja corpos seminu e um toque de
sexualidade para aguçar a sede dos consumidores. Mas alguma coisa está
mudando. A cerveja já pode ser vista de outra forma que não seja bem
gelada e em grandes quantidades e o foco das atenções não seja a dona do
bar gostosona que se parece com a Gabriela, não a primeira, mas a
morena de agora. A luxúria ou neoluxúria da cerveja está escondida no
próprio copo do líquido que passa a ser apreciado com a devida atenção. A
sensualidade está nos sabores diversos e
libidinosos que por tanto tempo foram surrupiados dos brasileiros. A
oferta de saborosas cervejas é hoje a realidade que faz o consumidor
virar um caçador de novos prazeres. A confissão dos novos pecadores é
para livrar-se do pecado original da cerveja mal feita e de baixa
qualidade. A tentação é por aromas florais de lúpulo que podem
desencadear uma obsessão por descobrir os encantamentos dos rótulos mais
raros e desejados. O desejo, o apego as suas garrafas e a descoberta de
um mundo dos pecados é a transformação da ditadura dos belos corpos e
de um sabor apenas para a democracia com pluralidade e das novas
experiências. Foi proferida a boa nova, hoje somos livres para ousar em
um pecado cervejeiro que substitui a quantidade pela qualidade. Quando
apreciamos o corpo da cerveja estamos realmente falando da sensação da
cerveja na boca e o uso da língua como órgão sexual cervejeiro.
A cerveja já conquistou o seu espaço na gastronomia e na mente dos
zitólogos apaixonados e dos adoradores da boa mesa. Somos carne e não
haverá remissão dos pecados cervejeiros. Está escrito no catecismo do
malte que poderemos elevar nossos espíritos libertados para um plano
superior das sutilezas de uma boa cerveja.
Todos estão diante de uma encruzilhada que leva ao pecado libertador e
não tem retorno. Não bastarão penitências para aplacar os seus desejos.
Uma vez feito o caminho das cervejas especiais ele é prazeroso e sem
volta.
Luciano Castro, Biersommelier/Zitólogo
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